segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Carla Machado:“Deixei R$ 87 milhões em caixa”, em entrevista a folha da Manhã

(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente)
Prefeita de São João da Barra entre 2005 e 2012, Carla Machado (PP) tenta voltar ao cargo. Seu adversário é quem ela apoiou para sucedê-la, Neco (PMDB). A aliança entre os dois não durou muito tempo. Ela afirma que deixou recursos em caixa para atual gestão e faz críticas pela não continuidade de obras iniciadas na sua. Seu grupo político recebeu recentemente muitos que estiveram no grupo do atual prefeito até pouco tempo. Questionada se o fato poderia gerar ciúmes em seus aliados, disse que no momento certo saberá reconhecer quem tem competência e quem sempre foi “parceiro”. A necessidade de enxugar a máquina pública é outro ponto defendido pela candidata, que atribui ao ex-aliado um governo perseguidor. A campanha está acirrada, com troca de acusações e muitas discussões nas redes sociais. Ela acredita que o acirramento não se repetirá no voto: “As pesquisas mostram o banho de votos que vamos dar, a maior diferença de votos já ocorrida em SJB”.

Folha da Manhã – Você administrou o município por dois mandatos (2005 a 2012), com uma arrecadação crescente. Esse crescimento se repetiu nos primeiros anos de Neco, mas agora existe uma queda de arrecadação. Caso eleita, como administrar o município com o orçamento menor? 

Carla Machado – Quando iniciei em 2005, minha arrecadação era em torno de R$ 70 milhões ano. Depois nós tivemos mais dois anos em torno de R$ 85 milhões a R$ 89 milhões e em 2008, R$198 milhões. O total de R$ 446 milhões nesses quatro anos. Esse valor o atual prefeito quase teve em um ano só, que foi no ano de 2014, quando ele arrecadou R$ 425.675.000. A gente vai trabalhar da mesma forma que trabalharmos anteriormente: contando com aquilo que a gente tinha, buscando utilizar o recurso disponível para população e para as áreas prioritárias. Não faltou dinheiro nessa gestão. Essa gestão, até o mês de agosto, arrecadou mais de R$ 1 bilhão e 300 milhões. Isso não refletiu para atender a população. Não se vê obras acontecendo no município, além de inauguração de semáforos e poucos abrigos de passageiros. Tem uma obra de calçamento e urbanização no bairro Porto Seguro que está inacabada, como outras em curso que não foram terminadas. A gente vai utilizar o recurso de forma eficiente e em favor do bem comum, coisa que a gente não vê acontecer hoje.

Folha – Esse R$ 1,3 bilhão é a soma dos quatro anos do governo Neco? 
Carla – O valor de R$ 1.300.329.684 foi o somatório dos três anos e até o mês de agosto. O somatório dos meus oito anos de governo foi R$ 1.631.967.917. Neco praticamente terá em quatro anos, o que eu tive em oito de receita. Fora que eu deixei R$ 87 milhões em caixa e fora os R$ 123 milhões que ele já gastou a mais e que passou devendo para o exercício de 2016. Somado a isso, ele já gastou, até hoje, R$ 1 bilhão e 423 milhões na atual administração. E infelizmente devendo a Santa Casa de Misericórdia, as terceirizadas, aos hospitais outros contratados. O município sequer dispõe de Dipirona para fornecer a população que necessita.

Folha – Mas Neco diz que herdou uma dívida, o que ficou em caixa era menor que a dívida. Ele diz que ficou uma dívida de R$ 46 milhões.
Carla – Eu trouxe aqui (mostrando cópia do documento) um documento assinado por eles, porque a prestação de contas do último ano da nossa gestão foi feita por ele. É um documento do TCE, como vocês podem comprovar, mostra: ativos financeiros R$ 87.888.952,05; passivo financeiro, o que a gente deixou de obras em curso para serem pagas, compromissos já feitos, R$ 73.209.687,36. Aí vem aqui, superávit financeiro do exercício R$ 14.679.273,69, que representa o que eu deixei sem comprometimento algum. O que me causa estranheza é que o atual prefeito aprendeu a mentir muito rápido. Na realidade, os números mostram por si e esse é um documento encaminhado ao Tribunal de Contas e assinado por ele. Tem a Lei de Responsabilidade Fiscal que corrobora com o que eu falo. Ninguém teria as contas de governo aprovadas, como eu tive os oito anos, pelo TCE e pela Câmara Municipal, se eu não tivesse cumprido com a Lei de Responsabilidade Fiscal que é não deixar dívidas para o gestor que me sucede. Só isso já mostra a inverdade que o prefeito está falando. O que aconteceu e ele não explica bem, é que algumas despesas foram apropriadas para a conta de royalties e nós deixamos mais dinheiro na fonte 00 (ordinários provenientes de impostos). E isso é muito melhor, porque na fonte 00 não impedimento algum sobre a sua utilização, podendo até pagar pessoal. Se a equipe dele não tem a capacidade de fazer essas modificações e cumprir, realmente, é porque ele não tinha que estar governando. E isso aqui é documento, assinado por ele. Deixei superávit financeiro de R$ 14 milhões, além de deixar recursos em caixa para terminar obras em curso que, infelizmente, estão paradas.

Folha – Desde 1996, o PMDB venceu todas as eleições municipais sanjoanenses. Primeiro com Betinho (Dauaire, duas vezes), depois com você (duas vezes) e em 2012 com Neco. Essa questão partidária influencia no jogo político de SJB?
Carla – A política hoje não vê muito a questão da sigla partidária e sim os candidatos. Antes mesmo da campanha a gente presenciou em SJB uma debandada de políticos eleitos dentro do PMDB. Foram eleitos no partido o atual prefeito e o atual vice. Hoje o vice deixou o PMDB e ingressou no PRB. O PMDB fez três vereadores, o Aluizio, o Jonas e o Alex. Todos os três ingressaram no PP. A questão da tradição do PMDB era porque tinha um grupo forte, comprometido com SJB. Hoje, em virtude de ter um prefeito no exercício do mandado dentro dessa sigla, (o grupo) buscou caminhos outros para cumprir a sua missão, o seu dever, que é o bem comum.

Folha – A sua mudança do PT para o PP, pouco antes da eleição, foi para evitar o desgaste do partido em nível nacional?
Carla – A única coisa que os opositores tanto falavam na ocasião era com relação ao desgaste do PT, as corrupções do PT. E lógico, eu que sempre falei que o meu partido é SJB, não estaria integrando um partido que pudesse a vir me prejudicar nesse momento. A gente entende que existem pessoas boas e ruins em todos os lugares. É uma pena que prefeito do município de SJB hoje esteja dentro do PMDB, por que é uma sigla que eu admiro, que eu tenho grandes amigos, e políticos que se destacam por um trabalho sério e honesto.

Folha – Nos bastidores, comenta-se que poderia estar havendo uma reaproximação sua com o Jorge Picciani, presidente do PMDB no estado, após várias histórias de um embate, uma ruptura acirrada entre vocês. Isso procede?
Carla – Eu não tive ruptura acirrada com Picciani. Simplesmente, quando optei por sair, eu fui entregar minha carta pedindo a minha desfiliação. Ele me recebeu, e eu o agradeci. Picciani é presidente de um partido e, com tal, tem de estar apoiando aqueles que são do partido dele.

Folha – Mas existe uma reaproximação sua com Picciani?
Carla – Não existe reaproximação como não existiu o desgaste como falam.

Folha – Então, está tudo como antes?
Carla – Não está porque eu não sou filiada ao PMDB mais, e sim ao PP.

Folha – Sim. A partir da sua saída, não teve nenhuma conversa no sentido de lá na frente voltar ao PMDB?
Carla – Não.

Folha – Você falou da saída de vereadores que foram para o seu grupo político. Mas não foram só vereadores, foram secretários e outros que estiveram no governo até pouco tempo. Isso não gerou certo ciúme em quem continuou com você desde 2013?
Carla – Para ser sincera, não só os que saíram, mas como muitos que ainda estão lá, votam com Carla Machado, votam 11. Questão de ciúme, é uma questão de cada um. Eu sei quem tem competência, quem tem capacidade e quem sempre foi parceiro nosso. No momento certo, a gente vai saber reconhecer isso.

Folha – O transporte municipal foi implantado em 2013 e, desde então, é alvo constante de reclamação. Caso eleita, como fará para solucionar esse problema?
Carla – Nós fizemos no passado um trabalho que teve toda formulação com o arquiteto e urbanista Jaime Lerner. Inclusive de linhas, trechos, até pensando na demanda que existiria proveniente do complexo portuário do Açu. Nós deixamos praticamente licitado, só não licitamos porque o TCE exigiu que olhasse o contrato licitatório para que a gente pudesse subvencionar as linhas internas. Naquela ocasião seriam 15 linhas que funcionariam, o que não ocorreu. Depois o prefeito fez um contrato emergencial para que se arrendasse ônibus e seguisse uma programação. Da mesma forma, não acontece. Está no contrato, acredito eu, oito ou nove ônibus, quando na verdade só funcionam quatro. Falta, principalmente, um acompanhamento melhor e fiscalização. Hoje se diz que tem transporte gratuito quando, na verdade, falta transporte. Os usuários vão para os pontos de ônibus, esperam 30 minutos, uma hora, duas horas, e esses ônibus sequer passam por lá. Eu vejo essa falta de controle na administração como um todo. Na minha gestão eu comprei nove ônibus escolares. Desses nove, eu acredito que somente um funcione. Eu vejo o prefeito dizer que vai comprar ônibus para o transporte, mas se não tiver gestão vai continuar a mesma coisa. Falta gestão. Quando não se tem gestão, nada funciona. Não funciona, e vocês podem comprovar dentro daquele quadro de horários por locais onde os ônibus passariam, e isso não acontece. A população não conta com o transporte. Nós vamos estudar essa questão, já existe esse estudo formatado de linhas, e vamos resolver. Seja subsidiando ou criando nossa própria empresa municipal de transporte, moldes que a gente viu funcionar bem no município de Maricá.

Folha – Não é da alçada do município o transporte intermunicipal, mas é algo que é alvo constante da população. Caso eleita, como articular com o Governo do Estado se há a necessidade de maior fiscalização ou a abertura de novas linhas devido ao crescimento do município?
Carla – Eu acho que nós temos que fazer a nossa parte enquanto representante do município junto ao órgão competente. Não é possível que o município de SJB, que hoje tem o maior empreendimento privado da América Latina, não conte com transporte de qualidade. Nós estaremos buscando na esfera estadual, através do Detro, cobrar melhor essa questão vamos, em contrapartida, estar cobrando de nossos representantes na esfera legislativa do Estado.

Folha – Outra questão que gera muita reclamação é o abastecimento de água. O prefeito Neco tentou expropriar a Cedae e tomar a administração para o município. Qual seria uma solução rápida para o abastecimento de água em SJB?
Carla – Primeiro, definir a concessão da água. Eu fiz um estudo enquanto prefeita com uma universidade federal para sabermos o que representa a receita da água. Eu não tenho interesse em privatizar a água, eu tenho interesse que a população de SJB seja atendida, tanto no abastecimento de água, como na questão do esgoto. A Cedae é uma empresa que tem a responsabilidade da água e do esgoto. E, em cima desse estudo, nós estaríamos pactuando com eles o que precisaria de investimentos para a extensão da rede de abastecimento de água e a questão do próprio saneamento. Coisa que não evoluiu. Infelizmente, hoje a gente vê briga entre Prefeitura e Cedae e não vê nada acontecendo. Nós fizemos muito trabalho em cima da ampliação da rede de abastecimento de água, como nós fizemos com relação ao esgoto e a própria drenagem. Ninguém nunca fez tanto nessa área como nós fizemos em nossa gestão à frente do município.

Folha – SJB é uma cidade territorialmente pequena, com um orçamento grande e só tem esgoto tratado na sede do município. Como fazer para ampliar essa rede de esgoto para todo município? No final do seu governo estava em construção uma estação de tratamento no antigo matadouro. Como ficou isso?
Carla – O prefeito não consegue resolver nada. Ele alega que foi deixado obras que ele não completou porque não tinha projeto executivo e que estava errado, mas ele não buscou junto à sua equipe fazer os projetos devidos e cobrar das empresas. Ele reclama que as obras não foram feitas corretamente, mas muitas delas tiveram continuidade por algum tempo, tiveram pagamentos efetuados por ele e fiscalizados por eles. Nós temos para cada obra até cinco anos para que se ingresse na Justiça caso não seja resolvido administrativamente. E eu não tenho conhecimento de nenhum procedimento nesse sentido por parte do prefeito. Ele fala que eu construí uma estação de tratamento de esgoto em área que não pertencia ao município, mas lá funciona um matadouro municipal há décadas. E, no mínimo, essa seria uma questão jurídica facilmente resolvida, caso houvesse a vontade política do atual prefeito para fazer com que isso funcionasse.

Folha – Sobre o assoreamento na foz do Paraíba, houve manifestação dos pescadores com medo que a barra pudesse fechar e impedir o trabalho deles. Caso eleita, como resolver essa questão?
Carla – Foi feito um projeto junto com o INPH (Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias) sobre o avanço do mar. Acho ótimo, um bom projeto. Vamos buscar, junto ao órgão competente, a obra de um grande vulto, que precisaria de um grande apoio da esfera federal. Agora a gente sabe que a Petrobras está entrando em SJB com força e sabemos que muitas parcerias são feitas com a Petrobras. Inclusive existe uma tubulação da Petrobras que precisa se retirada de baixo da terra que já foi utilizada em outros lugares na contenção do avanço do mar. Então, vamos ver as possibilidades, vamos lutar. Dizer que com o orçamento do município eu conseguirei passar da questão do projeto, eu estaria mentindo. Se hoje a gente tem mais de 80% das intenções de votos válidos, é porque tivemos, no passado, uma gestão que não prometia, mas que fazia. E que, ao final, saímos com 87% de aprovação, que me dá muito orgulho. Então, é deixar essa questão só de falar em projeto, e partir para ação efetivamente.

Folha - O avanço do mar em Atafona começou na década de 60. Muitos atribuem a construção do reservatório de Guandu, durante o governo Lacerda. Dali em diante começou e ouvimos falar sobre muitas coisas. Já levou ruas, quarteirões. O que é possível fazer, de prático, para conter esse avanço?
Carla – A intervenção é uma coisa gigantesca e requer recurso federal. Não adianta eu falar que vou fazer e acontecer, sem o apoio e os recursos do governo federal. Ou parcerias com quem possa nos ajudar de forma efetiva.

Folha – Acha que essas parcerias podem ser viabilizadas na sua próxima gestão, caso seja eleita?
Carla – O que eu posso prometer é que vou estar lutando como sempre lutei. Como lutei para levar o IFF para São João da Barra, mesmo com a cidade não tendo 100 mil habitantes, como eu levei a Farmácia Popular, como eu consegui várias compensações financeiras na época com a LLX. Coisas que após a minha saída não aconteceram. Consegui com o Grupo X asfaltamento de estrada, serviço de abastecimento de água, consegui a Vila da Terra, viaturas para a Polícia Militar e a Polícia Civil, consegui tratores para as associações de moradores, para ajudar a agricultura familiar, consegui o terminal pesqueiro, consegui a reforma da usina de reciclagem. E o que faltou e vou solicitar o cumprimento é a questão da estrada parque, ligando Grussaí ao quinto distrito. Como vou cobrar a área de terra, alia na Estrada do Galinheiro, para fazer a nossa Zona Especial de Negócios, nossa ZEN, onde atenderei, futuramente, nosso pequeno e médio empreendedor em negócios que envolvem a questão portuária.

Folha – Você comentou sobre o IFF e também citou, lá atrás, a questão dos abrigos de passageiros. No caso específico do IFF, não tem, até hoje, abrigo de passageiro.
Carla – Pois é. O prefeito colocou um abrigo bem na frente da Caixa Econômica, onde não se utiliza muito. E deixou de atender um local importante como é ali, em frente ao IFF. Outro ponto importante é o acesos ao IFF. Até porque tivemos recentemente uma fatalidade com uma jovem, inteligente, que cursava técnico.

Folha – Você também falou sobre o que conseguiu de retorno, além do que já estava previsto, em relação às empresas do Porto do Açu, que hoje é uma realidade que se concretizou no seu governo. Mas existem queixas da população sanjoanense, sobretudo em relação ao aproveitamento da mão de obra local. O que fazer para equalizar essa demanda do sanjoanense que deseja trabalhar no Porto?
Carla – No passado fizemos uma pactuação, até na redução de ISS em virtude da contratação da mão de obra local. Nós temos que fiscalizar isso. Não só com a empresa maior, que no caso é a Prumo, como também com as que ela contrata e terceiriza serviço. Paralelo a isso, temos que fazer um trabalho de conscientização de que nós precisamos ser bons. Não só qualificados, mas bons trabalhadores. Para que haja não a imposição da parte da Prefeitura e o empresário busque prioritariamente a mão de obra local. Até porque reduz o custo, pois não é necessário buscar mão de obra fora. Mas é bom destacar que o Porto atende não só a demanda de São João da Barra, mas de toda a região Norte Fluminense. A região que tem um dos menores IDHs no país vai poder estar se desenvolvendo como um polo produtivo.

Folha – No 5º distrito, mais do que pela questão do Porto, você ficou marcada pela desapropriação. E o quinto é uma área, e o sanjoanense é bairrista, do prefeito Neco. Acha que isso pode te atrapalhar em relação ao quinto e ao município de São João da Barra, como um todo, em algum momento?
Carla – Existem coisas que são mal interpretadas e utilizadas por adversários políticos de forma equivocada. Na realidade nós não desapropriamos. A Prefeitura não desapropriou. O que nós fizemos foi transformar a área em interesse industrial. Isso fez com que ela passasse a ter um valor que não tinha. Essa questão é usada pelo grupo político do meu adversário, quando foi ele, como presidente da Câmara, que assinou essa modificação quando estava à frente do Legislativo. Como eu já disse, a função do prefeito não é só fazer coisas que agradam, até o que desagrada, pensando no futuro. A gente sabe que o petróleo é um bem finito. A gente vê muitos municípios na crise por conta da queda do preço do barril. Vamos trabalhar para que São João da Barra se torne cada vez mais independente dessa compensação financeira oriunda dos royalties.

Folha – São João da Barra é um desses municípios dependentes?
Carla – Eu sempre falo que São João da Barra anda na contramão da crise. Porque enquanto vários municípios do país estão sem perspectiva, em São João da Barra o desenvolvimento é uma coisa visível.

Folha – Por conta do Porto do Açu?
Carla – Lógico, através do Porto do Açu. Por isso que eu digo que São João da Barra anda na contramão da crise. No ano passado o município arrecadou R$ 346 milhões. Enquanto eu tive em 2012 o meu maior orçamento e arrecadamos R$ 356 milhões. Somente R$ 10 milhões a mais, quando ainda deixei R$ 87 milhões em caixa, pagamentos todos em dia, cartões universitários, hospitais conveniados, inclusive a Santa Casa, programa de transferência de renda atendendo a mais de cinco mil famílias e um município organizado. Hoje o que você vê é um município sem conservação, um município que é tido por muitos como caloteiro, pela péssima gestão do atual governo. Volto a falar: São João da Barra está na contramão da crise.

Folha – Entre as novidades recentes de São João da Barra está o Centro de Emergência, que leva o nome de uma pessoa que foi sua colaboradora, que foi Pedro Otávio. Hoje funciona através de uma OS. O que você pretende fazer. Manter a OS, fazer concurso público?
Carla – Primeiro é preciso saber quais são as possibilidade que teremos para o próximo ano. Eu não sei o que me aguarda, qual o grau de endividamento do município. Segundo eu não posso assegurar que será essa OS que irá permanecer, porque esse é um processo licitatório. Posso garantir que vamos ter uma gestão que torne a nossa Saúde eficiente. Não vamos admitir pagar em uma unidade onde falta o básico, como fraldas e Dipirona, onde faltam insumos tão necessários, onde equipamentos ficam quebrados, R$ 3 milhões mensais, quando a média do que se é praticado fica em torno de R$ 1,8 milhão por mês. Vamos utilizar menos recursos de forma mais eficiente. Fico muito triste em saber sobre muitas coisas erradas e atendimentos ruins. Aquele espaço deveria servir de exemplo. Nós entregamos no final da gestão como se fosse um filho que precisaria somente ser educado.

Folha – E a questão da Santa Casa, que alega atraso no repasse, como resolver?
Carla – A Santa Casa de Misericórdia de SJB é uma instituição centenária e precisa ser respeitada. Tivemos uma parceria os oito anos com a Santa Casa. Tínhamos lá cirurgia de pequena e média complexidade, de traumaortopedia e tínhamos a melhor equipe aqui da região. Outras cirurgias de vesícula, de hérnia, tínhamos um programa importantíssimo que é o pé diabético, tínhamos consultas especializadas, a casa da gestante, enfim, uma série de atendimentos nessa parceria que mantivemos os oito anos, pagando o que continha no nosso convênio e tendo, dessa forma, a possibilidade de mandar a população que precisa ser atendida lá. Então vamos estar resgatando isso, fazendo uma outra pactuação e, se Deus quiser, a Santa Casa de SJB não irá trabalhar, como está hoje, com 10% de sua capacidade.

Folha – E os hospitais de Campos, os convênios?
Carla – Os hospitais de Campos a gente sempre utilizou para questão de atendimento de maior complexidade, digo a questão do leito de UTI. Hoje faz de conta que SJB tem leito de UTI porque não existem leitos de UTI lá. O que existe é Unidade de Pacientes Graves e acho que saúde é coisa que não se brinca, independente de idade. Enquanto houver vida nós temos que buscar o atendimento e isso tenho muito orgulho de ter feito na minha gestão. Se não havia vaga no SUS já tínhamos pactuação com hospitais aqui para receber essas pessoas que precisavam de atendimento.

Folha – No ranking de eficiência, divulgado pela Folha de São Paulo, o município de SJB foi considerado pouco eficiente. Entre os 5.281 municípios avaliados, ocupou a posição 3.939. Como resolver essa situação, aplicando com mais eficiência os recursos públicos em áreas essenciais como saúde, educação?
Carla – Primeiro, vamos constituir uma equipe que tenha condição de estar gerindo suas pastas. Porque prefeito, ele não sabe tudo. Se tem as secretarias é para que eles possam estar ali, junto com o prefeito. O prefeito determina. É a questão da vontade política, mas os secretários têm que estar trabalhando com suas pastas e dar resultado, principalmente. E penso em fazer uma parceria mais efetiva com as universidades. Já temos o IFF em SJB e vou tentar junto ao IFF, estender o atendimento do curso técnico para graduação e pós-graduação. E temos a Uenf e a UFF, além da Universidade Federal Rural, que a gente tinha no passado. De forma que a gente vai buscar a expertise junto a estas universidades, que têm trabalhos científicos maravilhosos que poderão contribuir muito com nossa gestão.

Folha – O verão de SJB é uma tradição. Como realizar um verão em 2017, com essa queda no orçamento e dificuldades financeiras, caso seja eleita?
Carla – Vocês participaram do verão comigo nos meus oito anos. Ano passado o orçamento foi de R$ 350 milhões. Eu tinha 70, 80, 180 milhões. E, nem por isso, deixei de fazer verões maravilhosos. Vamos fazer com que tenhamos uma programação diversificada, que tenhamos eventos de grande porte e que tenhamos, também, culturais, esportivos e musicais com a prata da terra. O que não podemos deixar é de fazer uma programação. Até porque os comerciantes, os veranistas, donos de pousadas, ambulantes... eles esperam esse período para que a renda deles possa estar melhorando. Acho que o turismo é uma vertente forte de nosso município. A gente pensa em estar estimulando festivais, que possam ter como carros chefes os produtos da nossa terra.

Folha – Um fato curioso dessa campanha é que o vice do atual prefeito é o seu vice na chapa. Como foi essa articulação? E o eleitor não identifica mais o vice como sendo ligado ao atual prefeito?
Carla – Na realidade, a escolha de Alexandre (Rosa) foi um senso comum. Inclusive, só tenho a agradecer aos outros seis companheiros. Todos nós chegamos à conclusão que Alexandre não teve a oportunidade, como vice-prefeito, de contribuir para o governo. Alexandre é formado em Gestão Pública, é um empresário de sucesso, é nascido em SJB e foi alijado da administração por ser meu amigo. De forma que houve um consenso e Alexandre foi escolhido por todos e aceito pelos demais pré-candidatos a vice para ser dada essa nova oportunidade para que ele possa trabalhar pela cidade que tanto ama. No passado, nós também tivemos caso parecido: Dodozinho com Betinho Dauaire. Dodozinho foi deixado de lado. Betinho optou por outro vice e nós pegamos Dodozinho e o quanto ele nos ajudou. Em oito anos, Dodozinho trabalhando todos os dias, principalmente na área que ele gostava que era ver as estradas do 5º distrito. E hoje a gente tem orgulho de falar que este trabalho foi desenvolvido, principalmente, pelo meu vice-prefeito, que foi o grande desbravador do 5º distrito. Pontes, mais de mil quilômetros de asfalto e o mérito dou ao meu vice-prefeito Dodozinho, que hoje não está entre a gente, mas que deixou sua marca na política sanjoanense, como homem sério e trabalhador.

Folha – Na campanha deste ano, outro fato atípico é o embate entre “criador” e “criatura”. Você trabalhou na última campanha e defendia o nome de Neco. Temos uma campanha acirrada entre vocês em 2016, principalmente nas redes sociais. Você atribui esse acirramento a esse confronto atípico?
Carla – Quando se fala em campanha acirrada, pensamos em duas coisas: acirrada no voto, essa nós não temos, pois as pesquisas mostram o banho de votos que nós vamos dar, a maior diferença de votos já ocorrida em São João da Barra. Agora, acirrada, sempre foi a eleição de SJB. É uma paixão. SJB é diferente de qualquer local. Está acirrada nas redes sociais porque ela exerce um papel, está dentro da casa das pessoas. No passado não existia isso. A questão de “criador” e “criatura”, tem um ditado que fala: “para conhecer um homem, dê poder a ele”. Eu só passei conhecer, realmente, o atual prefeito após a vitória dele. Eu imaginava que, como uma pessoa que veio do sacrifício, da extrema pobreza, que ele pudesse ser uma pessoa mais sensível aos problemas dos sanjoanenses. E me enganei. Vejo um governo tirano, perseguidor, que descumpre suas obrigações financeiras e políticas.

Folha – Em entrevista à Folha, ao comentar sobre o racha, o prefeito disse que no início do governo ele teria segurado três pagamentos. Dois seriam de patrolagem e um de eucalipto. E que você teria procurado o prefeito e dito que era um “negocinho para Márcio”. Como você vê esse tipo de declaração?
Carla – Eu acho que o prefeito, a cada dia, se ridiculariza mais. Inclusive, vou aproveitar que isso será publicado em jornal, para que eu entre com um processo na Justiça para que ele prove o que ele está falando. Acho que é de muita irresponsabilidade e baixaria afirmar coisas inverídicas. Acho que será uma ótima oportunidade, já que ele deu essa declaração à Folha.

Folha – Antes de falar isso, o prefeito disse que você teria colocado duas mulheres de Quissamã para fazer a transição de governo. Ele não soube dizer quem. Você poderia dizer quais foram essas pessoas que ele falou que você colocou para a transição de governo? Elas existem?
Carla – Quem não tem trabalho para mostrar e que não tem motivo para expor, arruma desculpas. Armando (Carneiro, ex-prefeito de Quissamã) esteve lá com a esposa e tinha essas duas técnicas que eram muito boas. Como não tínhamos gente com muito conhecimento na parte de auditoria e queria fechar até minhas contas, eu as chamei. Não foi para a transição dele, foi para me ajudar a fechar meu governo, para poder ajudar na auditoria das contas. Depois quem pegou foi a secretaria dele. Eu tinha secretária, mas eu quis uma pessoa externa. Como foi para dentro da Saúde: “está devendo o que aqui?”. Fiz a Santa Casa de São João da Barra devolver um recurso. Enquanto não fosse auditada, não iria pagar. E foi minha sorte. Usei duas auditoras para o fechamento do meu governo. Se ele (Neco) as manteve posteriormente, foi escolha da secretária dele.

Folha – O atual prefeito decretou emergência econômica em maio, fez alguns cortes, mas não teve um grande corte na máquina. Caso você seja eleita, há a necessidade de enxugar a máquina?
Carla – Com certeza. Na realidade, hoje a gente vê um número muito maior do que o necessário de servidores. A gente vê uma diminuição de 10% no salário, mas vê nomeações serem feitas quase que diariamente, enquanto a carga horária foi reduzida praticamente pela metade. Para que tantas nomeações se a carga horária diminuiu? Antes, o trabalho era de 9h às 17h. Hoje é de 9h às 14h. Não vejo essa necessidade. A gente vê que, de forma escandalosa, os nomeados são para estar no grupo político fazendo campanha eleitoral para o atual prefeito. Inclusive, esposa, pai, marido de ex-secretários que saíram para concorrer ao pleito municipal.

Folha – Seu grupo aponta o atual prefeito com um perfil perseguidor. Já o grupo dele enxerga em você também um perfil de perseguição. Como você vê esses dois pontos?
Carla – Eu nunca proibi ninguém de falar com adversário político, de curtir o Facebook e nem demiti pessoas em virtude disso. Hoje, centenas de pessoas foram colocadas na rua até mesmo por curtir meu Facebook. Curtiu, caiu. E se não curtir e compartilhar o dele, também cai.







Fonte: Folha da Manhã